Mesmo com a ascensão de figuras femininas presentes em cargos de liderança, ainda existe uma grande diferença quando é feita a comparação com o número de líderes homens. Além da baixa representatividade, quando estão em posições de chefia, as mulheres tendem a enfrentar desafios que não englobam somente suas capacidades profissionais, mas também questões de personalidade. Elas precisam aprender a lidar com expectativas culturais e comportamentais que a sociedade tem em relação ao comportamento feminino, como ser afetuosa, delicada e demonstrar empatia. Em contrapartida, as mesmas questões não são esperadas de um chefe homem, por exemplo. Dele, tradicionalmente se espera apenas força e competência.
Apesar das mulheres mostrarem possuir o mesmo nível de competência e capacidades e que podem contribuir igualmente ao universo corporativo, alguns fatos históricos e culturais impedem que elas cheguem com a mesma velocidade no topo das empresas. Quando passam a ocupar cargos de liderança, essas figuras femininas precisam fazer um esforço muito maior para obter o respeito da equipe, o que pode afetar inclusive o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional da mulher que vive essa situação.
Características femininas na liderança
Diversos fatores e características do perfil feminino são bastante utilizados no dia a dia de uma gestão e liderança. Para Flávia Zibordi, diretora executiva e presidente da AMK Traduções, as mulheres líderes são mais assertivas e persuasivas. Por isso, possuem uma necessidade mais forte de executar ações, além de estarem mais dispostas a assumir riscos do que os líderes masculinos. “Ao longo da minha trajetória, sempre lutei por espaços maiores nas empresas em que trabalhei. No início da minha carreira, trabalhei em uma multinacional, onde tive grandes conquistas, mas enfrentei muitos desafios também. Sempre que participava de entrevistas para assumir novos desafios, eu já iniciava dizendo que não pretendia ter filhos. Isso porque ainda existe o pensamento de que a mulher, pelo fato de ser mãe, pode não ser produtiva para a empresa e que um homem em um papel de chefe pode proporcionar mais lucro. Nós vivenciamos essas situações desde sempre devido às questões culturais enraizadas na nossa sociedade. Precisamos mostrar dia após dia como é vantajoso ter uma mulher em cargos no topo, pelas características únicas que só nós mulheres temos”, disse a presidente.
Outra característica que pode ser considerada como um diferencial é que, culturalmente, ao longo dos tempos, as mulheres tiveram que conciliar o cuidado com a casa, marido e filhos, com a sua vida profissional. Tal rotina fez com elas tivessem rápidas mudanças de atenção e foco de uma tarefa para outra, sem que nenhuma delas perdesse a qualidade. Com isso, as mulheres assimilam mais detalhes, com mais rapidez, e organizam essas informações em padrões mais complexos. Em cargos de liderança, ao analisar mais variáveis antes de tomar decisões, elas oferecem resultados mais efetivos e, principalmente, os conquistam juntamente com a colaboração da equipe.
Por serem mais sensíveis e buscarem um ambiente organizacional harmônico, as mulheres na liderança estão sempre prontas a ouvir e a considerar as percepções e ideias de seus colaboradores. Ainda, elas tendem a permitir a participação ativa da equipe nas decisões da organização. Isso ocorre porque elas já percorreram um longo caminho pela igualdade de gênero e, por isso, almejam um mercado de trabalho mais equilibrado e harmônico, onde haja mais espaço para líderes e liderados construírem uma empresa de sucesso.
Os desafios
Apesar das características apresentadas acima, as mulheres ainda enfrentam dificuldades para atingir cargos de liderança, principalmente quando estão concorrendo com homens. Andrea Napolitano, diretora executiva da Gomes da Costa, afirma que a preferência por líderes masculinos ainda é uma realidade no mercado.
“Para chegar em uma posição em que possam concorrer com os homens, as mulheres precisam estar bem melhor qualificadas. Infelizmente, vemos isso no mercado, em processos de seleção e nas consultorias que realizamos, ainda existe muita preferência pelo homem no mercado. E quando vemos mulheres que se destacam, o que observamos em seus currículos é que elas têm muito mais tempo de sala de aula, de estudo e qualificação para conseguirem se destacar no mercado e serem selecionadas para ocupar uma posição que também está sendo disputada por um homem. Por isso, acredito que o caminho para enfrentar esses obstáculos impostos pelo machismo da sociedade é ser uma profissional altamente qualificada. Já vivi situações em que duvidaram do meu trabalho ao assumir lideranças e eu provei que era capaz mostrando os melhores resultados que a empresa já teve. É demonstrando qualificação e resultado que seremos cada vez mais respeitadas”, afirma a diretora.
Existe ainda o comparativo entre os dois gêneros. A linha entre credibilidade e arrogância é extremamente tênue nos casos de líderes mulheres. Para liderar e ganhar credibilidade da equipe, algumas mulheres tendem a incorporar alguns comportamentos tidos como tipicamente masculinos: falar mais alto, mais objetivamente e de forma mais incisiva. Por outro lado, ao tentar mostrar autoridade, podem ser vistas como arrogantes. No caso dos homens, não é visto desta forma. Além disso, ao se mostrarem mais objetivas e incisivas, podem passar a impressão de que não se importam com os outros. Porém, caso se importem demais, são vistas como manipuláveis e fáceis de tirar vantagem.
Apesar de todos os obstáculos enfrentados diariamente, sem perspectiva de acabar com essas questões, as diretoras acreditam que, em um futuro próximo, as mulheres terão mais oportunidades e reconhecimento igualitário. “Esse assunto vem sido discutido desde o início da minha carreira e mesmo tantos anos depois, problemas ainda existem. Entretanto, nos últimos anos percebemos a mudança de postura em parte da sociedade. Ainda há muito para mudar, mas o tema vem sido pautado com maior frequência e as mulheres estão levantando suas bandeiras, lutando por oportunidades e ensinando, pouco a pouco, que somos importantes”, afirmou Flávia Zibordi, diretora e presidente da AMK Traduções. “A presença feminina é essencial em qualquer negócio, devido ao nosso perfil e a nossa representatividade. Ter mulheres em cargos de liderança faz com que a empresa tenha um olhar voltado para o todo, ao invés de olhares segmentados. Incentivo que todas as mulheres sejam cada vez mais capacitadas e que ocupem esses espaços. Acredito que este é o caminho para uma igualdade no futuro”, disse Andrea Napolitano, diretora executiva da Gomes da Costa.